A vitória de ontem trouxe ao Dallas Mavericks o primeiro título de sua história, o primeiro título de seu técnico, o primeiro título de cada um de seus jogadores. Foi uma conquista com tantas nuances, com tantas facetas, que a história do título merece ser contada em verso e prosa. É sobretudo uma história de superação de uma equipe e de sua principal estrela.
Em 2006 o Dallas chegou à final da NBA pela primeira vez, e como favorito. Abriu 2 a 0 na série contra o mesmo Miami Heat, vencia a terceira partida por 13 pontos a seis minutos do final, e conseguiu perder este jogo e os próximos três, em uma das maiores entregadas da história do esporte. Dirk Nowitzki errou um lance-livre(!) que poderia levar o terceiro jogo para a prorrogação e foi inefetivo no confronto que lançou Dwyane Wade ao estrelato.
No ano seguinte, nova decepção para o Dallas que, depois de fazer a melhor campanha do Oeste, foi eliminado na primeira rodada pelo oitavo colocado. Dirk Nowitzki recebeu o rótulo de perdedor, atribuindo-se a ele a incapacidade de brilhar nos momentos decisivos. Em 2009 nova derrota na primeira rodada, e em 2010 derrota nas semifinais de conferência para o inferior Denver Nuggets. O Mavericks era um time bom, sem dúvida, mas parecia fadado ao segundo escalão.
A temporada 2010-2011 começou sob o frenesi da ida de LeBron James para o Miami Heat, e todos sonharam com um confronto entre o bi-campeão Lakers e a nova geração Wade-James-Bosh. Nas previsões do início do campeonato, 29 dos 30 presidentes dos times escolheram Lakers ou Miami como os futuros campeões, o outro cravou o Boston. Dallas e campeão não entravam na mesma frase.
O Mavericks entrou nos playoffs atrás do San Antonio e do Lakers, os verdadeiros candidatos à vaga na final. Caron Butler, segundo pontuador entre os titulares, sofreu uma contusão em janeiro e viu suas férias antecipadas. Na primeira rodada o Dallas desperdiçou uma liderança de 23 pontos no final do terceiro período do quarto jogo, e viu o Portland empatar a série em 2 a 2 ressuscitando os velhos fantasmas.
Porém este ano o enredo foi diferente. Daquele ponto em diante Dirk Nowitzki e companhia venceram 10 dos seus 11 jogos seguintes, incluindo uma série perfeita contra o bicampeão Lakers, e chegaram à sua segunda final. Ainda não era suficiente para recuperar a credibilidade. Do outro lado, o Miami Heat passou de forma tão convincente por Boston e Chicago que sete de oito especialistas cravaram o Heat como campeão. O oitavo apostou no Dallas, mas apenas porque acreditava que seria um bom enredo para um conto de fadas.
E as finais começaram como previam os especialistas, uma vitória relativamente fácil do Miami na primeira partida e 15 pontos de vantagem no segundo jogo a cinco minutos do fim - Dwyane Wade e LeBron James soltando faíscas de tanto brilharem. Naquele momento começou a história de redenção do Dallas Mavericks. Nowitzki assumiu o papel de herói com desempenhos absolutamente inacreditáveis, incluindo as cestas decisivas nas duas primeiras vitórias - uma delas debaixo de uma febre de 38 graus. Impressionou, sobretudo, sua postura de campeão, sóbria e séria, sem o jeito afetado, as provocações infantis e as frases megalomaníacas de seus adversários.
No jogo de ontem Dirk se superou novamente. Após um início pavoroso em que nenhum arremesso entrava, o alemão marcou 18 pontos e foi o cestinha da segunda metade, garantindo a vitória mais fácil da série e o título de campeão. Jason Terry, J.J. Barea e Deshawn Stevenson conduziram o Dallas nos dois primeiros quartos, com atuações magníficas. Ao final, com a conquista já assegurada, Nowitzki correu para os vestiários, em atitude muito pouco usual no universo egomaníaco da NBA, permitindo que os holofotes se voltassem a seus companheiros. Retornou para receber o troféu e o título absolutamente merecido de MVP das finais.
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